domingo, 23 de outubro de 2005

O Legado DNA - Capítulo 2 - Dona Graça

Dona Graça é Assistente Social. Hoje ela está aposentada, mas nunca perdeu sua condição profissional de ajudar as pessoas. Tenho certeza que esta sua verve, de ser boazinha com o próximo, estava presente bem antes dela abraçar sua carreira. Perdi a conta das vezes que a vi dizendo algo do tipo: “Eu tenho que parar de ser besta”, mas aí ela sempre vai dar a mão para alguém que fará alguma merda bem grande tão inversamente proporcional ao apreço que minha mãe ofereceu.

Além disso, ela é certamente a sogra que toda mulher gostaria de ter. Ela nunca teve uma filha, apenas dois marmanjos que devem sobretudo respeitar a filha dos outros, mesmo que a filha dos outros tente atropelar um de seus filhos com um carro ou seja uma desconhecida que descobriu onde você mora e lhe persiga pela rua com um machado dia e noite.
Sem dúvida, minha mãe e amável.

Dona Graça também é expert em se envolver em situações constrangedoras, as chamadas gafes. Ela é a primeira pessoa a chegar num local, encontrar uma mulher que andou comendo demais e fazer a pergunta, “Estás grávida?”, na frente de todos é claro.

Outro dia um senhor, lá pelos seus cinquenta e tantos anos, adentrou a lojinha de Dona Graça. Dias antes, o mesmo senhor havia comprado vários vasinhos chineses, que estavam à venda na loja. Ele agora havia voltado com várias pessoas, uns rapazes e uma mocinha com uma filhinha.

O senhor disse que os vasos ficaram muito bonitos em sua casa, com um notável ar de que tinha vindo para buscar os que restaram. A menininha, filha da mocinha, escolheu algum brinquedinho. Enquanto mamãe embrulhava o presente, com intuito de preencher algum silêncio que sempre aparece entre vendedor e freguês, ela fala sorridente:

- É sua neta?

O coroa pegou o presente, com certo tempo de resposta e disse calmamente:

- Os rapazes são todos meus filhos, e essa pequenina...é minha filha também.


Dona Graça ainda tem um monte de vasinhos chineses na loja.

Além de não perceber que se envolve nestas situações, ou perceber tarde demais, mamãe ainda participa de outras onde os telespectadores podem achar que ela está fazendo isso de sacanagem. Foi o que aconteceu recentemente.

Próximo à lojinha mora uma senhora com problemas de audição. Ela veio ver umas roupas e trouxe uma conta, dessas que chegam pelo correio, para dona graça explicar-lhe melhor a cobrança. Tanto mamãe quanto eu sabemos do problema da vizinha, por isso devemos falar em mais do que alto e bom som com ela.

- É uma cobrança para seu filho – Dona Graça falando de um jeito que dava para ouvir do outro lado da pista, e continuou – É uma dívida que ele não pagou e por isso o nome dele foi para o SPC!

Ela teve que repetir isso várias vezes para ser entendida, o tempo em que um pequeno grupo já se aglomerava na frente da loja, alguns até já procuravam a câmera escondida da pegadinha que a mamãe estava fazendo com aquela pobre senhora.

Dona Graça é gente boa, é a sogra que muitas gostariam de ter e dela eu herdei a habilidade de ser bonzinho e sempre me dar mal, envolver-me em situações constrangedoras e sacanear com o próximo sem querer querendo.

Dona Graça e o segundo filho, em 1981

2 comentários:

Milla disse...

"Garoto de 8 anos, no corpo de um gordo cabeludo de 176 cm, de férias pela vida"... com 10 cmts a mais vc, seria o clone perfeito do meu "EX"!!!
Obrigado pela sua visita, demais os seu textos... seu prazer mortífero!!!

Anónimo disse...

Nossa Diou... pela foto e pelo texto sua mãe parece uma "Graça" mesmo, no nome e na personalidade!!
besos