sábado, 5 de novembro de 2005

O Legado DNA: Capítulo 3 - Seu Hélio

Seu Hélio é um pacato cidadão bancário aposentado que não abre mão da conhecida sesta depois do almoço. Não gosta de aglomerações ou exaltações. Um lugarejo de um interior distante, com ventos velozes, igarapé e peixe frito, para ele, é mais do que o reflexo do paraíso. Seus cabelos grisalhos, cada vez mais brancos, só intensificam a serenidade que paira sobre sua cabeça. Não que ele viva livre de preocupações, ainda mais sendo pai de dois dementes disfarçados que caminham entre as pessoas de bem, mas definitivamente ele é um cara calmo.

Além de lugares amenos, meu pai gosta da 7º arte. Hoje em dia ele possui passe livre nas salas de cinema e por alguma influência minha, já se permite assistir a filmes sem cenas de explosões, finais previsíveis, americanos e americanas e outras peças hollywodianas. Graças a ele eu e meu irmão podemos relembrar em minutos toda a filmografia dos “Trapalhões” – levar-nos ao cinema era um dos programas prediletos. Hoje, quando vamos ao cinema, eu só ataco de Park Chan Wook (Old Boy) pra cima, para balancear os anos de mesmice cinematográfica incrustados em nossas almas.

Recentemente descobri outra coisa que tenho em comum com meu pai. Eu possuo uma característica estranha, uma espécie de habilidade latente que sempre se manifesta ao clique de uma máquina fotográfica. Não sabia de onde vinha, até que um dia encontrei várias provas em antigos álbuns de família. Não é proposital, não importa o que aconteça, eu sempre saio fazendo caretas em fotografias, como o meu pai.

Como diz o pequeno urso num antigo desenho do Pica Pau: “Esse é o meu pai!”. Dele eu herdei a minha figura calma e tímida, o gosto por filmes - estendido para todos os estilos - e a habilidade extraordinária de sair em fotos sempre fazendo careta.

Cena do filme "Um filho de seu Hélio" - um passado humilde, um presente mais humilde ainda e um futuro pra lá de humilde.

terça-feira, 1 de novembro de 2005

A arte de ser pai

Ter um filho deve ser uma experiência indescritível. Não estou falando do processo de engravidar, carregar o peso por nove meses e depois enfrentar o parto, tarefa sem dúvida das mais difíceis e que deixa muita mulheres putas com homens frouxos. É claro que elas nunca levaram um chute no saco, mas enfim, isso não vem ao caso. Estou falando da mudança que isso causa em sua vida.”Depois que minha filha nasceu, nunca mais fui triste”, já ouvi coisas do tipo. Este mês de outubro, dois meninos chegaram a esta terra de furacão, corrupção, gripe aviária e fim do mundo a cada 100 anos: Gabriel, de André Tsuchiya, meu amigo mais japonês e mais distante e mais velho que eu; e João, de Jefferson Alcântara, guitarrista da Garagem 32 e mais novo que eu.

Parabéns pra vocês e para as mamães também: Gisele e Luana.

Enquanto nenhuma mudança tão radical acontece na minha, meus amigos vão assumindo esta tarefa extraordinária de ser pai.

E como diz um conhecido ditado que proferem por estas bandas: “Carreguem as suas cruzes que a minha é feita de tapioca”.
Garagem 32 em: "A Ameaça Fértil"






sábado, 29 de outubro de 2005

domingo, 23 de outubro de 2005

O Legado DNA - Capítulo 2 - Dona Graça

Dona Graça é Assistente Social. Hoje ela está aposentada, mas nunca perdeu sua condição profissional de ajudar as pessoas. Tenho certeza que esta sua verve, de ser boazinha com o próximo, estava presente bem antes dela abraçar sua carreira. Perdi a conta das vezes que a vi dizendo algo do tipo: “Eu tenho que parar de ser besta”, mas aí ela sempre vai dar a mão para alguém que fará alguma merda bem grande tão inversamente proporcional ao apreço que minha mãe ofereceu.

Além disso, ela é certamente a sogra que toda mulher gostaria de ter. Ela nunca teve uma filha, apenas dois marmanjos que devem sobretudo respeitar a filha dos outros, mesmo que a filha dos outros tente atropelar um de seus filhos com um carro ou seja uma desconhecida que descobriu onde você mora e lhe persiga pela rua com um machado dia e noite.
Sem dúvida, minha mãe e amável.

Dona Graça também é expert em se envolver em situações constrangedoras, as chamadas gafes. Ela é a primeira pessoa a chegar num local, encontrar uma mulher que andou comendo demais e fazer a pergunta, “Estás grávida?”, na frente de todos é claro.

Outro dia um senhor, lá pelos seus cinquenta e tantos anos, adentrou a lojinha de Dona Graça. Dias antes, o mesmo senhor havia comprado vários vasinhos chineses, que estavam à venda na loja. Ele agora havia voltado com várias pessoas, uns rapazes e uma mocinha com uma filhinha.

O senhor disse que os vasos ficaram muito bonitos em sua casa, com um notável ar de que tinha vindo para buscar os que restaram. A menininha, filha da mocinha, escolheu algum brinquedinho. Enquanto mamãe embrulhava o presente, com intuito de preencher algum silêncio que sempre aparece entre vendedor e freguês, ela fala sorridente:

- É sua neta?

O coroa pegou o presente, com certo tempo de resposta e disse calmamente:

- Os rapazes são todos meus filhos, e essa pequenina...é minha filha também.


Dona Graça ainda tem um monte de vasinhos chineses na loja.

Além de não perceber que se envolve nestas situações, ou perceber tarde demais, mamãe ainda participa de outras onde os telespectadores podem achar que ela está fazendo isso de sacanagem. Foi o que aconteceu recentemente.

Próximo à lojinha mora uma senhora com problemas de audição. Ela veio ver umas roupas e trouxe uma conta, dessas que chegam pelo correio, para dona graça explicar-lhe melhor a cobrança. Tanto mamãe quanto eu sabemos do problema da vizinha, por isso devemos falar em mais do que alto e bom som com ela.

- É uma cobrança para seu filho – Dona Graça falando de um jeito que dava para ouvir do outro lado da pista, e continuou – É uma dívida que ele não pagou e por isso o nome dele foi para o SPC!

Ela teve que repetir isso várias vezes para ser entendida, o tempo em que um pequeno grupo já se aglomerava na frente da loja, alguns até já procuravam a câmera escondida da pegadinha que a mamãe estava fazendo com aquela pobre senhora.

Dona Graça é gente boa, é a sogra que muitas gostariam de ter e dela eu herdei a habilidade de ser bonzinho e sempre me dar mal, envolver-me em situações constrangedoras e sacanear com o próximo sem querer querendo.

Dona Graça e o segundo filho, em 1981

quinta-feira, 20 de outubro de 2005

segunda-feira, 17 de outubro de 2005

O Legado DNA - Capítulo - Dona Teodora

Dona Teodora já tem 88 anos. Ela costuma ficar na porta de casa, onde passam os transeuntes, quase todos seus netos postiços. Muitos a chamam de vó, alguns até tomam sua “bença” – coisa que eu, neto original, dificilmente faço.
Pela idade, ela anda fazendo confusões, esquecendo coisas, às vezes agindo que nem a Dori (peixinha do “Procurando Nemo”). Meu irmão diz que deveríamos levar vovó até a praça e cobrar um real em cada história que ela contar às pessoas. Ela é a última dos pais de meus pais vivos. Ela é um documento vivo, mas hoje em dia sua memória já não pode ser chamada de fonte primária para uma pesquisa em que estaria em jogo o futuro da humanidade. Sempre que coloco música para tocar, uma hora ou outra ela dirá com um sorriso: “O teu avô gostava que só desta música”. Considerando que meu avó morreu há 23 anos e que a canção em andamento é de 2001, penso que qualquer dia não me surpreenderia dela dizer o mesmo enquanto ouço "Quens of the stone Age".
Minha avó é assim, hoje em dia eu sei exatamente seus passos diários pela casa (agora ela anda com o seu radinho, que emite luzes, debaixo do braço), além de inúmeras histórias repetidas, com pequenos detalhes diferentes, e contadas com entusiasmo de quem revelará um segredo pela primeira vez.

Tem aquela do seu cachorro branquinho, o Piquixito (este era o nome do canino, é minha avó mesmo). Ela acordou cedo para acompanhar o Círio de Nazaré e Piquixito a encontrou no meio da multidão. Este Piquixito era mesmo foda, alías, os animais que aparecem nas histórias da minha avó é que são. Tanto que a minha favorita é esta:

Em algum lugar, uma moça estava sozinha em casa com um cachorro. Ela estava fazendo farinha e o cachorro não parava de olhar para ela. Impaciente com o olhar pidão do animal, a moça fala irritada:

- O que é cachorro, tu queres farinha?
- Não, eu não quero! – o cachorro responde com desdém.

A mocinha cai mortinha no chão. Fim.
É verdade que às vezes ela não mexia com farinha, estava cozinhando alguma coisa, mas isto tem que ser tão irrelevante quanto o fato de não existirem testemunhas para o causo, já que ela estava sozinha com o cão e não sobreviveu para contar. Para não estragar a história da vovó, e agir como os que já sabem o final de uma piada e tiram todo o tesão do contador, eu simplesmente nunca perguntei se foi o próprio cão que lhe confessou o crime...e não me surpreenderia se o fosse.
Dona Teodora é aquela que todos gostam de chamar de vó e é dela que herdo a habilidade de contar histórias – o cerne de minhas capacidades jornalísticas, quadrinísticas e piadísticas. Espero um dia ser tão bom quanto ela.

Dona Teodora e o pequeno "Duque", um de seus confidentes, em 1990.

sábado, 15 de outubro de 2005

quinta-feira, 6 de outubro de 2005

Dom Quixote

Desenho de Ruy Perotti

Em parceria com a Academia Paraense de Letras, a Universidade da Amazônia (UNAMA) promoveu um concurso de contos sobre Dom Quixote. O tema: “As prováveis aventuras do cavaleiro da Triste Figura nas terras da Amazônia”. A idéia era situar o famoso personagem de Miguel de Cervantes em outro contexto, no caso, em alguma aventura por essas bandas amazônicas. O resultado saiu:

A comissão julgadora esteve assim constituída:

João Carlos Pereira - membro da Academia Paraense, jornalista, cronista e professora da Universidade da Amazônia.

Elaine Oliveira - mestre em Teoria Literária, professora da UNAMA e gerente-técnico do Instituto de Artes do Pará

Denis Cavalcante - livreiro, cronista e membro da Academia Paraense de Letras

Autores selecionados:

1o. lugar - Alfredo Garcia (pseudônimo "Jofre Pança"). Obra: "Quixote"

2o. lugar - Carlos Correa Santos (pseudônimo: "Cavaleiro do Contar". Obra: "D. Menino".

3o. lugar - Paulo Nazareno da Silva Almeida (pseudônimo: "Javier Gerardo Guadalajara"). Obra: "Visita de Família".


Puxa, levando em conta que eu nunca tinha me inscrito em nada do gênero, sequer ter terminado outro conto e definitivamente jamais esperar estas bem aventuradas notícias, isto é uma coisa bacana pra caramba. Parece que vai ser lançado um livro reunindo os contos em edição bilíngue (aí não sei quando).

sábado, 17 de setembro de 2005

A História de Ricky, de Ngai Kai Lam (1991)[Japão/Hong Kong]

Na entrada para a prisão, Ricky não passa no detector de metais. Os guardas o levam até um aparelho de radiografia instantânea, onde constatam assustados que o prisioneiro possui 5 balas do lado de dentro do peito.

- Por que você deixou elas no peito, nós poderíamos extrai-las.
- Souvenirs.

Esta é cena inicial de A História de Ricky, e isto ainda não é nada.

Filmes como este deveriam passar na sessão da tarde para que todos possam acreditar que existam. Hermes e Renato devem ter visto, Peter Jackson também, até eu vi, mas infelizmente a dona anita da padaria não viu. Se por acaso um dia adquirirem (comprando, emprestando, locando, roubando...)este filme de alguma forma, chame o maior número de pessoas que puder e não lhe contem o que eu vou escrever aqui – eles têm que sentir a mesma sensação que tive ao começar a assisti-lo, quando eu nunca tinha ouvido falar dele. Senta, que lá vem a história...e que história.

Antes de tudo, o filme é baseado num popular mangá “Rikki Oh”, a história se passa em 2001 – é um filme dez anos no futuro, já que foi gravado em 1991. Ricky é um jovem que possui um dom especial, algum poder, ki, sangue brabo ou coisa do gênero. Ele está indo para a prisão por ter matado um homem – pela personalidade do herói, com certeza era algum malfeitor. O Complexo Penitenciário é o Pavilhão 9 do carandiru elevado a enésima potência: os prisioneiros (que estão sempre livres sabe-se lá por que) se batem, se rasgam, se esfolam e se matam sob a vista dos guardas que não passam de meros enfeites. Sem citar o fato do diretor ser um corrupto (algo inédito nestes filmes rodados em prisões) envolvido com o tráfico de drogas da cidade. Para completar, existe uns tipos bem esquisitos que mandam geral na cadeia, chamados de “Gang do 4” – onde, com certeza, destaca-se Huang Chaun, que em vez de usar o traje de presidiário, prefere usar a roupa que a sua tia usava em 1984.

Sim, parece mais um destes filmes sobre a vida dura na cadeia e seus grupos internos. Mas não. Quando sentir a primeira gota de sangue espirrar da tela em você, vai ter idéia do que eu estou falando. E se em algum momento você se espocar de rir – o meu foi coincidentemente quando espocaram a cabeça de um detento com as mãos – vai saber do que eu estou falando. Não, não sou um sádico. Se você tiver visto ao menos um dos filmes de Peter Jackson (Fome Animal ou Trash Náusea Total), antes dele entrar em contato com hobbits e elfos, vai finalmente entender do que eu estou falando.

Os caras são muito bons atores, parece que eles levam o filme a sério - até mesmo na parte em que um deles comete harakiri e resolve enforcar Ricky com os próprios intestinos. Égua (e isso em Belém significa a interjeição mais foda que já inventaram) este é um dos filmes de kung fu mais absurdos, insanos e engraçados que já vi. E você que já achava absurdo os chineses voarem, espera só até ver Ricky quebrar blocos de concreto, mascar giletes, encontrar mais de mil motivos para vingança em tão pouco tempo e trucidar seus inimigos (literalmente) de tal forma que faria Paul Kersey (Charles Bronson em Desejo de Matar, todas as partes) morrer de inveja. Sem falar que o diretor, sem dúvida, era fã do Chaves – esperem só até aparecer o Nhonho.

E o nível de “trashismo” vai aumentando em doses graduais cada vez maiores até atingir níveis cavalares na apoteótica cena final – em que o protagonista só conseguiu lavar todo o sangue(falso) da pele três dias depois. Quando você imagina que o diretor já chegou ao seu limite, ele consegue extrapolar mais ainda na cena seguinte.

Enquanto assistia, a minha maior frustração era não ter como mostrar esses filmes aos meus semelhantes. Provavelmente ele nunca chegará ao Brasil – pensei comigo cabisbaixo... Porra, e não é que tem o DVD nas Lojas Americanas!! Pois é, meu aniversário é dia 7 de outubro.

Este filme é ótimo para você que vai fazer vestibular. Você deve passá-lo para sua mãe e depois dizer: “Mãe, eu ia fazer Medicina mas por causa deste filme eu resolvi ser cineasta.”


Não se preocupe, além deste sangue desaparecer em segundos, vai ter forra e da pior forma possível

O Clãs das Adagas Voadoras, Zhang Yimou (2004) [China/Hong Kong]

O Clã das Adagas Voadoras (Shi mian mai fu) é o segundo filme de Zhang Yimou do gênero Wuxia Pian – histórias baseadas em antigas lendas chinesas, numa época em que Isac Newton, Pascal e outros físicos ainda não tinham nascido. Antes que eu continue escrevendo qualquer bobagem que destrua toda a sociedade e cultura milenar de um povo, devo frisar que Zhang Yimou é o responsável por um dos melhores filmes que já vi em toda minha vida: Herói. Dizem as boas línguas que Tarantino se sentiu um merda ao ver Herói. Eu também me senti um merda. A beleza impressionante de Herói (visual e musical) também está presente no Clã. A fotografia, escolha das tonalidades de cores e a trilha é de agraciar os sentidos. Mas diferente de Herói (acaba sendo até uma covardia ficar comparando os dois, quem mandou fazer né?) o filme acaba se perdendo um pouco na sua “questão” mais sentimental, deixando as adagas, como sugere o título, voando por aí. Senta no chão, pega um chá de broto de bambu, que lá vem a história.

No ano de 800 e algumas quebradas, durante a Dinastia Tang – depois da Kisuco – o Clã das Adagas Voadoras é uma das mais temidas facções que se opõem ao governo. Leo e Jin, dois chefes de polícia, desconfiam que uma das novas moças da Casa da Luz Vermelha local é integrante do clã. Jin se passa por um cliente e conhece Mei (a cuja, filha do antigo líder), uma dançarina cega, que quando criança passava as férias com o Demolidor. Eles criam uma confusão para levá-la presa. Leo e Jin armam um plano: Jin invade a delegacia para libertá-la, ganhar sua confiança e acompanhá-la até a sede do Clã das Adagas Voadoras - onde pegaria o seu novo líder. Só que no caminho...”o amor é seu maior aliado e seu pior inimigo” (isso eu li num poster de divulgação do filme). Pois é, o sentimento bate forte e as coisas ficam complicadas.

O Clã tem efeitos especiais de encher os olhos mas em alguns momentos, depois da 25º adaga acompanhada pela câmera, temos a sensação de que novos clãs estão surgindo a todo momento: o clã das flechas voadoras, dos bambus voadores, dos pedaços de madeira afiados e voadores...

Enfim, é uma bela obra que continua mostrando que Zhang Yimou é um diretor dedicado e de estilo marcante. Tudo bem, mas desta vez eu me senti apenas quase um merda – é o preço de se fazer obras primas, jornalistas desocupados que não têm nada melhor para fazer costumam ser implacáveis. Assista em qualquer ordem: Herói (2002) e o Clã das Adagas Voadoras (2004), são ótimos de qualquer forma.

Porra, mas o Herói é... [e um turbilhão de elogios e palavras imaginárias continuaram para sempre em algum lugar da galáxia dizendo que Herói é foda]


Mei (Zhang Ziy). Curso aplicado com Matt Murdock e a cega de "A Vila"

Volcano High, de Tae-gyun Kim (2001)[Coréia do Sul]

Se não você nem simpatiza com mangá, video-game, animes e derivados, nem assista. Provavelmente vai achar Whasango (Volcano High) de Tae-gyun Kim (não sei se acertei a ordem), uma super merda. Há probabilidade de achá-lo uma droga mesmo gostando dessas coisas, mas não foi o meu caso. Na primeira cena um giz atravessa a sala em direção à cara de um aluno. A esta altura, você percebe que o professor não é uma pessoa normal. Depois que o giz retorna e explode na cara do professor, tem certeza que o aluno também não é uma pessoa normal. E depois disso, quando aparece uma tarja vermelha no meio da tela, com as inscrições : “Expulso”, realmente, não se trata de um filme normal. Em “Volcano High” os atores e as câmeras são apenas os suportes primários para se apresentar um mangá (ou anime) clichezaço nas telas – e tão divertido quanto (Pensando bem, nem tanto). Senta, que lá vem a história.

Mas que história? Porra, não tem história. Se isso importa mesmo, assista Heroi ou Tigre e o Dragão, ou outro “Wuxia Pian” calcados no amor na honra. Por ora, pegue seu joystick e acompanhe Kyeong-soo, um jovem meio problemático que depois de ser expulso de 9 escolas, chega em Volcano High. Ele tem um imenso poder, que apesar de dar a maior bandeira por causa de seu visual super-saiajin, só é percebido por Hak-rim, o melhor lutador de Volcano. Tanto os professores, quanto os alunos (quem sabe, todo mundo do resto do planeta) têm poderes sobre-humanos, logo, quando eles entram em conflito a porrada come solta com os mais fantásticos efeitos especiais que só o cinema digital traz para você – dizem que foi até um marco nas produções coreanas. É exatamente prestes a estourar uma guerra que Kyeong-soo aparece em Volcano High. Alguém tenta matar o diretor e Hak-rim é acusado e preso. Com o melhor lutador fora do caminho, Jang Riang, um menino mau do colégio - apesar do cabelo de Drag Queen – começa a descer o cacete nos líderes de cada turma, porque ser o número 1 é o objetivo de sua vida. Ele quer possuir o lendário “Manuscrito Sagrado”, onde existem grandes técnicas e poderes e está escondido em algum lugar da escola. Aliás, todo mundo conhece alguma impressionante técnica e poder, só que ninguém sabe como é que se aprende elas (pelo menos, não quem vê o filme). Como se não bastasse toda esta confusão, o vice-diretor resolve contratar uns cinco professores malditos, especializados em humilhar alunos super poderosos e rebeldes, não necessariamente nesta mesma ordem.

Os personagens são todos estereotipados e bem caricaturais. Os alunos se dividem em clãs, atividades extra curriculares: o time de rugby, os judocas, as lutadoras de kendo, alterofilistas e derivados. Cada aparição de um novo elemento vem acompanhada de uma apresentação alá Digimon – com um narrador que parece ter saído de uma partida de Winnig Eleven. A comparação a Rivals School, jogo de luta da Capcom, chega a ser inevitável.

Eu fiquei um tanto quanto impaciente porque Kyeong-soo fica evitando os confrontos que encontra pelo caminho, além de não agarrar logo a Chae-yi ou outras asiáticas gatas que ficam lhe dando bola (ou não).

Eu me diverti com o filme - eu não tinha nada para fazer mesmo. Mas eu sou o que poderíamos chamar de menino do buchão, aqueles que gostam de qualquer coisa, vibrava com “Comando para Matar” na sessão da tarde e acordava cedo pra jogar um novo cartucho. Se você têm boas lembranças dos tempos de colégio e alguma vez teve vontade de quebrar a cara de um professor nojento, relaxe, convide seus filhos, sobrinhos e afilhados e aproveite a sessão – porque afinal de contas, alguém tem que curtir muito Volcano High. O máximo de ruim que pode acontecer é dos moleques no outro dia pintarem o cabelo que nem pagodeiros e sair batendo em outras crianças e na professora. Ou seja, nada com o que você tenha que se preocupar.


Kyeong-soo. Olhando assim até parece que ele bate, mas apanha que é uma beleza

A casa dos 1000 corpos, Rob Zombie (2003)


Você percebe que a locadora que freqüenta é uma droga, quando tem muita vontade de ver um filme, não o encontra, acaba esquecendo dele – nem sabia que havia sido lançado no Brasil – e no primeiro buraco diferente que visita (e isto significa: uma locadora qualquer que passa despercebida) ele está na primeira prateleira perto da porta.

Não me considero um cara que entende das coisas, nem posso ser chamado de fã de filmes de horror – nunca vi muitos clássicos. Se fosse há alguns anos, eu poderia dizer que a minha expectativa levou um tiro de calibre doze na cara e se espalhou por todo o assoalho enquanto eu berraria deveras puto: “Mas porra, que filme mais escroto!”. Mas não, eu fui achar de flertar com a cinefilia e ver os filmes de outra forma, a direção, a edição, a maneira como foi feito, essas coisas. É por causa disso que A Casa dos 1000 Corpos (House of 1000 corpses)de Rob Zombie merece a quantidade de opiniões altamente favoráveis (ah, sim, tem a história também) no meio especializado em horror, terror, trash, slash, gore e todas estes estilos que só os fãs genuínos sabem diferenciar. Sai correndo, que lá vem a história.

No final dos anos 70, quatro amigos dentro de um carro passeiam pela estrada em algum lugar do interior dos Estados Unidos – essa é a nova, não? Eles chegam na loja do Capitão Spaulding (é o Krusty dos Simpsons, sem dúvida) onde ele apresenta um Show de Horrores, além de vender gasolina e frango frito. Após ficarem impressionados com história de um tal de Dr. Satã, os amigos saem da loja e seguem viagem até o carro dar prego num lugar inóspito – à noite, durante uma chuva, é claro. Aí eles tem que contar com ajuda de umas pessoas sinistras que moram numa casa sinistra e fazem coisas sinistras (é claro).

Acho que se Rob Zombie encontrar Tobe Hooper na rua, ele no mínimo deve dar um beijo na boca do velho. “O Massacre da Serra Elétrica” e “Pague para entrar reze para sair” (que eu tinha tanto medo que não lembro de nada)- ambos de Hooper – são fontes evidentes para esta sua primeira experiência cinematográfica.

Não importa o preconceito que alguns possam ter contra roqueiros, filme de terror ou filmes de terror dirigidos por roqueiros, A Casa dos 1000 corpos prende a atenção – não se pode negar. Os personagens da família Firefly são psicologicamente e visualmente marcantes – além de usarem camisetas que eu gostaria de ter. Os amigos viajantes são: Bill, um rapaz de óculos que quer escrever um livro sobre “histórias das beiras de estrada do interior dos EUA”, além de ficar fazendo perguntas idiotas; Jerry, um desses típicos babacas que se batem de peito uns contra os outros e se espocam de rir de brincadeiras de mau gosto; Mary, um modelo de namorada chata e Denise, aqueles personagens apagados que ninguém nota. Porra, não é preciso ser um maníaco psicopata para querer matar todos eles.

Neste primeiro filme de Zombie, eu percebi duas coisas: 1) A esposa dele, além de boa atriz é uma atriz boa; 2) Como diretor, até que ele é um bom músico. Não, a direção não é ruim não (a cena em que os tiras abrem o celeiro da casa é muito louca), é que eu não podia perder a piada. Mas não importa o quanto de imaginação e situações bizarras Rob conseguiu criar, não importa o quanto os atores estavam empolgados com o projeto e nem os ótimos personagens esquisitos da família Firefly...eu não achei este filme um novo clássico do gênero, não o achei supimpa – como uma galera anda dizendo por aí – e confesso que fiquei puto por um momento, mas acho que Rob queria isso. Agora penso que tenho que assisti-lo de novo, coisa que não fiquei com muita vontade ao final. É claro que eu quero ver The Devil’s Rejects (2005) sua continuação, afinal, todos merecem uma segunda chance, e como eu disse...a esposa dele é bonitona.


Babe Firefly (Sheri Moon)- Temos que dar um desconto a Zombie, afinal, em qual outro filme a gente encontra um maníaco assassino assim? Isto é vanguarda!

O “Punctum” de Roland Barthes


Ao ler pela primeira vez o livro “A Câmara Clara”, de Roland Barthes, não achei a câmara tão clara assim, talvez um pouco obscura. Numa nova tentativa, percebi por que o livro é referencial para muitos críticos, pesquisadores, estudiosos, ou até mesmo, estudantes universitários fazedores de resenhas para professores que não querem dar aula.
Os mistérios que rodeiam a tênue barreira entre a vida e a morte vêm à tona numa espécie de devaneio do autor sobre a fotografia. Suas impressões sobre o tema são extremamente pessoais e fascinantes. Apresentando uma série de trabalhos de fotógrafos conhecidos, ele vai traçando sua percepção própria sobre as imagens baseando-se, sobretudo, em dois aspectos: o studium e o punctum. O studium seria o “visível”, objeto de análise geral nas fotografias: aspectos que determinam o contexto de época, a cultura; e o punctum seria o “detalhe”, algo instigante que toma a atenção, parecendo sair da foto para tocar o observador. Este, é muito mais apreciado por Barthes.
O autor ainda mostra a questão sentimental como uma das chaves primordiais para o interesse na fotografia. A imagem retratada, seja de parentes ou lugares conhecidos, na maioria das vezes, desperta interesse somente nas pessoas que se identificam com ela. O autor demonstra não se ater tanto a esta regra e tenta elucidar ao longo do livro diversos punctums nem um pouco familiares.
Uma idéia bastante presente na obra é a Morte. Para Barthes, tudo parece vir dela e ir para ela, em se tratando de fotografia. Pode parecer triste, mas não retira a essência que o fez ter necessidade de escrever sobre o tema: o despertar da aventura. O que uma simples foto pode representar é extremamente variável e pessoal. Pode contar uma história, comover ou trazer alegria.
De qualquer forma, a fotografia é singular, ela repete mecanicamente o que nunca mais poderá repetir-se existencialmente, ela é a volta do morto, corta o tempo e o espaço. Ela é pesada e única, enquanto nós somos mutáveis e múltiplos.

Utilizarei registros, diferentes dos encontrados no livro, para uma melhor compreensão do que seria o instigante, que sai da imagem para tocar o observador, ou seja, o punctum de Roland Barthes. Vamos identificá-los nas imagens a seguir:

Punctum 1 - Todos podem perceber de cara que o punctum trata-se do gorro rosa da menina loirinha. Além de parte de seu cabelo também ficar rosa, causando grande impacto na foto.


Punctum 2 - Trata-se da bolsa vermelha ao pé da árvore. Ela está a uma distância não segura (da dona na cadeira), podendo ser facilmente levada por um ladrão.

Punctum 3 - É o relógio da moça. Não dá para ver as horas, e isso definitivamente é muito estranho, dando um ar de mistério à foto.

sexta-feira, 16 de setembro de 2005

A tale of two sisters, de Ji Woon Kim (2003)[Coréia do Sul]

Enquanto milhares de pessoas evacuavam a cidade tomados por uma força sinistra que os fazem se deslocar a determinados locais, todos ao mesmo tempo e na mesma época do ano - invadindo balneários que se tornam o reflexo do verdadeiro caos - eu me encontrava naquela tarde de julho reunido com algumas poucas pessoas, prestes a me deparar com “Janghwa, Hongryeon” (A Tale of Two Sisters), de Ji Woon Kim, produção de 2003, Coréia do Sul. Nossa, como às vezes eu sou um cara de sorte!

“Vão assustar a mãe, sul-coreanos filhos da p...!” – é o que dá vontade de soltar no meio da sala escura, ainda nos primeiros momentos do filme. Senta, que lá vem a história:

Duas irmãs, muito unidas, retornam para a casa do pai depois de passarem uns tempos fora. O pai, além de ser a cara do Fagner, é o que poderíamos chamar de “pai distante” e o relacionamento das duas com a madrasta não é nada bom. O clima fica bastante pesado, não só pelos confrontos entre a madrasta e as irmãzinhas (e a vista grossa do velho), mas também por que a casa é cheia de mistérios e barulhos estranhos, definitivamente um lugar onde ninguém gostaria de passar a noite. Quanto mais a história das garotinhas vai se desenrolando na película, mais enrolado fica o espectador. Eu fiquei emocionalmente envolvido com o drama de Soo-mi e Soo-yeon. O problema é estar envolvido com história das meninas e ao mesmo tempo ficar alerta com os silêncios e possíveis situações sinistras que possam nos surpreender. Estes filmes de terror asiáticos (não querendo generalizar, e depois desse é bom mesmo que não o façamos) geram uma grande expectativa da revelação da trama. Alguém (não sei quem, mas sempre tem) pode pensar somente no núcleo doméstico, um confronto familiar com algumas pitadas sobrenaturais, tipo :“Isso acontece nas melhores famílias e tem uns fantasminhas só para dar uns sustinhos”- mas depois da revelação (isso depois de ter pensando pelo menos numas 4 diferentes) posso dizer seguramente que isto não acontece nas melhores famílias, nem nas piores, nunca aconteceu, nunca vi...graças a deus! É, o caos que tomava conta dos balneários se instalava agora dentro de mim, e de quem sabe quantos ali naquela sala. O filme ainda é belo em muitos aspectos, com cenas de cores e imagens poéticas. Não sei se terá distribuição no Brasil, enfim, surgindo a oportunidade de assisti-lo, como eu tive, assista. Assista, antes que Hollywood faça a versão (ainda não fizeram?) - sim, esta moda ainda não acabou. Depois, durma sozinho(a) em casa.
SPOILER


[A PARTE AZUL DEVE SER LIDA POR DOIS TIPOS DE PESSOAS: 1)OS QUE JÁ VIRAM O FILME 2) OS QUE NÃO VIRAM MAS GOSTAM DE FICAR PUTOS. ENTÃO, NEM PRECISO FALAR QUE ABAIXO TEM COISAS QUE NÃO DEVEM SER DITAS PARA QUEM NÃO VIU. UMA BOA SAÍDA É: ASSISTA E VOLTE PARA LER, OU NÃO]

Parece que o diretor nos apresenta as duas irmãs para depois nos jogar numa trama onde nos perdemos a cada momento. Depois ele vai dando as respostas, até o encontro de Soo-mi com a madrasta – quando eu disse “Foda-se, agora sim, esses sul-coreanos são filhos da puta mesmo!”. No final, por um instante a madrasta verdadeira se redime, afinal, nem era ela que aterrorizava as meninas durante todo o filme. Mas a cena das lembranças de Soo-mi (de coloração sépia) dá motivos de sobra para Soo-yeon (que é uma gracinha) assombrá-la ad infinitum.
No meio da sessão, um amigo, que estava mais confuso que eu, revela: -Rapaz, eu vou embora. Por causa do horário e também porque este filme está muito porra loca!
Então, eu digo: -Não, cara, aguenta aí!
O tempo foi passando, e ele quebrando a cabeça, quando solta essa: - Então quer dizer que de três mulheres, só é uma?
Não estava nem próximo da revelação final. Até aquele momento, eu concentrado como estava, só havia pensado nisto: - ...(refletindo profundamente) rapaz, eu não sei...acho que é apenas uma irmã, que imagina a outra!
Pois é, e não é que o cara matou a charada. E olha que ele ia embora.

Cabin fever, de Eli Roth (2002)

Sábado, 9 horas da noite, você adentra a locadora de vídeo mais próxima da sua casa. Os lançamentos, além de não lhe agradarem, são mais caros. Por serem lançamentos? Sim. Por não lhe agradarem? Talvez. Talvez seja uma conspiração, onde a sua raiva é proporcional a grana que você gastou por ter assistido a filmes como “Os Esquecidos”, “O Jogo dos Espirítos”, “Mulher Gato” e por ai vai. O que foi? Gostou destes filmes? Não se preocupe, não sou um crítico cinematográfico de renome, portanto, a minha opinião é só mais uma, você não tem que se importar com ela. Na verdade, nem com a deles. Mulher Gato eu não vi ainda, logo, o comentário anterior foi puro preconceito mesmo.

Onde eu estava? Aí você mergulha nas seções de VHS antigos, quem sabe algum filme que ainda não viu ou que vale a pena ser revisto. Depois de abrir o quarto estojo, constatando que “mofo deu” em todos os filmes escolhidos além da falta de cuidado dos proprietários com aquele acervo, meio decepcionado, você começa a contar os passos em direção à prateleira de DVDs, quase todos lançamentos.

Passa a vista despretensiosamente, afinal, já estivera ali antes. Mais uma vez e seus olhos param na seguinte capa vermelha:

Já conhecia, tinha lido em algum lugar (texto de algum crítico, provavelmente). Estava aguardando a oportunidade de locá-lo para alguma reunião de amigos – é bem mais divertido. Não daria tempo de convocá-los àquela hora da noite. Se você sabia que estaria sozinho em casa naquela noite e mesmo assim levou “Cabin Fever” (com o título em português de “A Cabana do Inferno”)... se arrependerá amargamente de não ter companhia.

Não sei qual o seu caso, mas o meu não foi medo. Considerando que meus amigos nasceram no inicio dos anos 80, eu fiquei deveras triste de não lhes ter proporcionado o prazer de duas horas de bom filme inspirado nos clássicos de terror da década de nossa infância. Depois da saraivada de títulos, com os mesmos enredos e elementos manjados de horror, o diretor, Eli Roth, consegue contar uma história sinistra, impactante e “original”, mexendo com tudo isso, fazendo na verdade uma homenagem aos filmes que assistiu. Senta, que lá vem a história:

Após terminarem a faculdade, 5 cinco amigos resolvem passar uma semana numa cabana, na floresta, numa dessas cidades do interior dos estados unidos onde Jason ou Leather Face se sentiriam em casa. Eles são o casal de namorados Jeff e Marcy, a loirinha Karen, o inconseqüente Bert e o boa praça Paul. Seria um divertido fim de semana daqueles com direito a historinhas de terror ao redor da fogueira regado a marshmallow e marijuana se não aparecesse um cara com uma doença desconhecida que vai deteriorando toda a sua carne rapidamente. Daí, segue a paranóia de ser contaminado e referências a várias filmes, como Evil Dead, O Massacre da Serra Elétrica, O Enigma do Outro Mundo, A Balsa (episódio de Creepshow), além de outros que não devo ter visto. O resto, eu não vou contar mesmo. Bom filme, boa diversão, com direito até a sexo pré-apocalíptico e gente cuspindo sangue até o pulmão dizer chega, trilha bem feita de gelar e reviravolta de reflexão sobre a natureza humana – do que somos capazes de fazer.


Ah sim, tinha esquecido dos vizinhos grunges amigáveis

SPOILER

[A PARTE AZUL DEVE SER LIDA POR DOIS TIPOS DE PESSOAS: 1)OS QUE JÁ VIRAM O FILME 2) OS QUE NÃO VIRAM MAS GOSTAM DE FICAR PUTOS. ENTÃO, NEM PRECISO FALAR QUE ABAIXO TEM COISAS QUE NÃO DEVEM SER DITAS PARA QUEM NÃO VIU. UMA BOA SAÍDA É: ASSISTA E VOLTE PARA LER, OU NÃO]

O termo “Cabin Fever” (Febre da Cabana) aparece no filme O Iluminado de 1980 (Stanley Kubric, baseado no romance de Stephen King). Seria o um estranho mal que toma conta de pessoas em lugares isolados, no caso, vitima o escritor Jack Torrance (Jack Nicholson), que enlouquece, mata um homem e tenta matar sua família. O lugar seria o Hotel Overlook, onde ele passa a temporada para escrever um livro. No início eu achei que o diretor quis fazer um cruzamento: apesar do título ser uma doença psicológica, a febre da cabana, os personagens se deparam com uma doença física e hedionda – acho que baseada na bactéria que come carne (ganhou projeção na mídia em 1994 quando apareceram casos em Gloucertershire, Inglaterra). Mais tarde, eu tive o pensamento de que a transformação de Paul é realmente um dos pontos fortes do filme: o rapaz arrebenta a cara de um, enfia uma chave de fenda no tímpano de outro, trespassa um terceiro com uma lança, deixando o cara fincado no chão e espanca uma garota com uma pá até a morte - sua paixão platônica desde a 8 série. É, a Febre da Cabana realmente existe no filme de Eli Roth. Rider Strong, ator que faz o personagem, depois de inúmeras comédias adolescentes e séries do tipo “Malhação”, não me decepcionou desta vez. Obrigado Rider, eu já tinha perdido a esperança em você.

"Um dia ele irá de pagar"

Considerações sobre Blade Runner - filme de Ridley Scott (1982)


Roy Batty


O agente Deckard, o caçador de andróides, é sem dúvida um homem pós-moderno. Inconformado e perdido em seus afazeres de mundo futurista, ele tem que matar "sem querer querendo" os replicantes quando poderia estar curtindo umas férias no Havaí. Num universo onde a tecnologia se mistura com representações antigas, onde a cópia toma o lugar e a essência das coisas reais, a manipulação de códigos genéticos parece atingir o auge. O homem usa de máximo conhecimento e tecnologia para realizar trabalhos arcaicos, de uma maneira interessante - para o duro trabalho nas minas, na colonização de outros planetas, foram criados os "replicantes". Não sei por que os andróides da série Nexus 6 eram tão safos quanto os próprios cientistas que os projetaram, mas em compensação, tinham um tempo de vida curto. É claro que a probabilidade de uma rebelião seria inevitável. Para tentar esconder essa mímica de deus, entra em cena o "Blade Runner", o cara incumbido de aposentar os andróides que fugiram de seu destino de escravo.

Durante o filme, o agente Deckard utiliza um vídeo-fone, come um genuíno macarrão chinês à moda antiga, encontra animais falsos, mata um replicante ali, outro acolá, e acaba encontrando Roy Batty, o personagem mais fascinante do filme. Ele é o líder dos replicantes, um ser angustiado pelas questões existenciais, ele é mais humano que qualquer homem verdadeiro de nossa época. Como se tomado pela loucura de Victor Frankenstein ao perder a mãe, só que com uma infinita calma, ele só queria a fórmula do tempo, mais tempo para viver. E é justamente o tempo que não existe, ou está passando cada vez mais rápido. Nenhum sujeito do filme está mais perdido que Roy Batty, nem Rachael ( que não sabia se era de verdade ou não), ele é a figura viva de que o tempo sempre vence o homem...e o andróide, mais ainda. Após esta aventura, o agente Deckard ficou tão próximo destas maravilhas da engenharia genética que acabou se apaixonando por uma: A Rachael. Na verdade, o diretor do filme só revelou que ela era realmente uma andróide, 20 anos depois. Mas Deckard descobriria isso em quatro anos, quando o Dna sintético de Rachael deixasse de funcionar.

"o pensamento é o escravo da vida,
a vida é o bobo do tempo
e o tempo, que domina todas
as coisas do mundo
um dia, irá de pagar..."


"Vi certas coisas... que sua gente não acreditaria. Naves de ataque ardendo no largo de Orion. Vi raios C, cintilando na escuridão junto ao portão de Tanhäusen. Todos esses momentos vão se perder no tempo. Como lágrimas na chuva. Hora de morrer."
[Roy Batty, data de fabricação 2016. Modelo de combate. Auto-suficiência perfeita]

quinta-feira, 15 de setembro de 2005

No meio do caminho havia um gato, havia um gato no meio do caminho

Noel, logo após ter engolido um diamante de 24 quilates. Desapareceu um dia sem mais nem menos antes de fazer suas necessidades pela última vez. Eu continuo por aqui...e pobre.


"O que os gatos possuem é uma audibilidade seletiva, eles podem escolher o que querem escutar. Ao contrário do que muitos possam pensar, eles não têm uma boa visão. Quando são surpreendidos por uma luz intensa, um farol de carro por exemplo, eles ficam parados e vão para o primeiro lugar mais escuro que a luz que encontram. No caso, pra debaixo do veículo."

O trecho é de um professor de física que tive em 1997, no terceiro ano colegial. Aquela foi uma boa noite para me lembrar daquilo. Eu vi gatinhos brincando na rua, serelepes ao sereno como crianças no parque com o sol lá no alto. Lembrei do rapaz que vi com um gatinho rajado nos braços e das palavras da namorada, sobre ele ser uma pessoa especial, já que poucas pessoas gostavam realmente de gatos, certamente por serem individualistas, parecendo os humanos.

Mas nada disso me fizera lembrar ainda das palavras do professor, como as próprias palavras do professor. Eu já havia me despedido da namorada e ia para casa naquela noite. No caminho, agradeci que a namorada não tivesse vindo comigo.
Eu, no meio da extensão da rua e o gatinho no meio da largura da pista. O pequeno vinha em direção à calçada quando a intensa luz o surpreendeu. Exatamente como o professor descreveu, ele ficou ali parado, imóvel num instante que parecia durar uma eternidade. A única diferença das palavras do professor, é que não tive certeza se foi o gato que foi para debaixo do carro, ou o carro que o engoliu para debaixo dele.

Nenhum som. Pelo menos, não o ouvi. Apenas, esperançoso, pensei que assim que o veículo tivesse terminado de percorrer seu próprio comprimento na pista, veria o gatinho intacto, sem um arranhão. Afinal, ele era pequenino, poderia passar por baixo sem se machucar. Além do mais, o carro não vinha rápido, vinha devagar, mais um motivo para eu não pensar em agravantes.

O veículo desceu a rua e eu pude avistar o bichano preto e branco. Que bom, ele se movia. Mas se movia em movimentos estranhos, na verdade, nem ele sabia quais eram. Na calçada, dois humanos atônitos, parados, viam a cena. Na pista, um amigo rajado o olhava em sua mais nova brincadeira...fazer movimentos rápidos e estranhos, enquanto o asfalto ia ficando molhado e escarlate.

Em nenhum momento eu parei de andar, como se quisesse me afastar o quanto antes do pequeno individualista que agonizava no meio da pista. Cheguei até a desviar os olhos num momento. Quando olhei para trás, o gatinho preto e branco - e vermelho - já não se movia, e o seu amigo rajado finalmente ficou parado e atônito, esperando o outro se levantar.

Ninguém mais na rua. Apesar de parecerem ter mais personalidade que outro animal doméstico, ou individualistas por natureza, as semelhanças com o ser humano terminara ali. Nenhum alarde, o motorista não parou - acho que nem viu, ninguém correu para socorrer, nenhum curioso a mais.

Terminara ali...apenas o seu amigo rajado, dois humanos parados e eu voltando para casa. Pensei nos gatos que tivemos em casa e desapareceram sem mais nem menos. Todos se foram, com suas características e trejeitos bem definidos.

Quando cheguei, o gato preto e branco de casa - por isso o chamam de Frajola - fitava-me como se dissesse:

"Bem, agora já sabes..."

E eu:

"Sei que és um rude Frajola, não és capaz de fazer um carinho sem interesse. Mas não desapareças sem deixar recado."

[Novembro de 2004]

O que é que eu tenho a ver com isso?



Eu estava sozinho naquele dia novamente, quando o telefone tocou. Atendi. Depois de um pequeno silêncio, uma voz desolada começou:

Amigo, eu sei que não o conheço, na verdade...rabisquei umas coisas e acabei escrevendo este número de telefone da minha cabeça. Acontece que hoje eu sentei e liguei a televisão para assistir ao noticiário local. Estavam apresentando uma matéria sobre o Big Brother em Belém. Era um grupo de gays que estavam torcendo pelo Jean. Todos eles reunidos e felizes com a idéia de que o cara seja o último a deixar a casa. Inclusive, um deles lá, presidente de alguma coisa dos homossexuais, falou que o Jean é um exemplo para eles, o mais legal e o melhor de todos. Meu amigo...não é preconceito, não é nada não, mas...me responde uma coisa, só uma coisa... O que é que eu tenho a ver com isso? Por favor, alguém me ajude. Eu só queria ver uma notícia, alguma coisa sobre o que estava acontecendo na cidade...porra cara, desculpa, mas é que eu precisava desabafar.

E desligou.
Ontem, segunda-feira, o telefone tocou de novo...

Rapaz, eu sou aquele cara que ligou um dia pra ti, aquele do Big Brother, tá lembrado? Olha, põe agora no jornal, que a apresentadora já chamou uma matéria sobre o BBB de novo. Vamos ver juntos e tu me diz o que tu achastes ...

E assim se fez. Assisti a tal matéria, eu e meu amigo anônimo. E como esperávamos, segundo a matéria, todos estavam se preparando para o paredão final. Em cada canto de Belém, uma família se reunia, alguns com cartazes em casa, torcendo pelo seu Big Brother preferido: o Jean. Todos vibravam e se contorciam de prazer a cada declaração de Pedro Bial, sobre quem permanecia na parada. Enfim, o jornal terminou. Depois de um breve silêncio, a voz do outro lado...

É isso cara, amanhã eu também vou torcer pelo Jean. O cara vai ganhar um milhão de reais e não vai me dar nem um centavo, mas eu me importo tanto com a vida dele, mesmo tendo certeza que ele nunca vai saber que eu existo, como todo o resto da galera daqui. Porra, eu vou torcer porque eu acho que quando esse cara ganhar...vai ser feriado em Belém.

E desligou de novo, esquecendo de perguntar a minha opinião sobre a matéria. Coloquei o fone no gancho, respirei fundo, refleti um pouco sobre tudo...e finalmente sai de casa em direção a uma loja de serigrafia para encomendar minha camisa personalizada do japonês.

Alguém sabe o cúmulo da pessoa emotiva?
- É chorar vendo Big Brother.

[Véspera da aguardada final do Big Brother Brasil 5, ou 4...sei lá]

coisas, coisas...

Entreguei por aí uns cartões de “impostor artístico profissional”: ilustrações, quadrinhos, websites, jornalismo gonzo dos muppets e outras picaretagens
Sei que esta birosca está parada ultimamente, então coloco alguns links de quadrinhos e cartoons exemplares que estão perdidos por aí no recinto.

Manual prático sexual para pessoas desinteressantes e nem um pouco descoladas (1) (2) (3)

Diálogos 1, 2, 3, 4,

O gato mestre dos disfarces (1) (2) (3)

O jornalista Mendigo (1) (2) (3)

Vida Sacal / Fantasias Eróticas / Zidane

Maxmiliam (1) (2) (3) (4)

Orkut People

As piadas mais escrotas da galáxia (1) (2)

Bozo Larápio

Por que Deus? Por que...

Três Respostas

Historinhas Sinitras no Paintbrush (1) (2) (3) (4) (5)